Você já se pegou namorando aquele carro incrível de uma marca que não opera mais no país? A ideia de ter um modelo exclusivo é tentadora, mas a compra de carros de marcas extintas envolve riscos que vão além do preço. Será que a economia inicial compensa a dor de cabeça na hora da manutenção? Vamos mergulhar nesse universo e descobrir se esse é um bom negócio ou uma cilada.
O dilema: Comprar ou não um carro de marca extinta?
A chegada de novas montadoras, especialmente da China, tem agitado o mercado automotivo australiano, pressionando as marcas tradicionais. Nesse cenário, algumas empresas como Opel, Daihatsu e, mais recentemente, Citroën, deixaram o país. Até mesmo a icônica Holden encerrou suas operações na Austrália em 2020. Para os proprietários de veículos dessas marcas, a manutenção e o reparo podem se tornar um verdadeiro desafio, já que não há mais uma rede de concessionárias local para suporte.
Mas, afinal, vale a pena investir em um carro usado de uma marca que não atua mais no mercado australiano em 2025? A resposta dos especialistas é um “depende”. Embora existam muitos mecânicos qualificados para trabalhar nesses modelos, a dificuldade e o custo para encontrar peças de reposição podem variar bastante.
Um porta-voz da Victorian Automotive Chamber of Commerce (VACC) explicou que o problema vai além do emblema no capô. “A questão não é a marca, mas a disponibilidade dos componentes certos para manter o carro seguro e confiável”, afirmou. Ele acrescentou que, com o envelhecimento do veículo, o acesso a peças, informações técnicas de reparo e software de diagnóstico pode se tornar complicado, independentemente da marca ainda operar ou não.
Collin Jennings, chefe de relações governamentais da Motor Traders Association of NSW (MTA), complementou que a falta de informações de serviço para alguns modelos agrava a situação. “Mesmo que as peças estejam disponíveis, o software de diagnóstico e as informações de serviço podem não ser mais atualizados pelo fabricante. Isso dificulta a localização do software e da calibração, mesmo para técnicos experientes”, disse Jennings ao Drive.
A caça às peças: O maior desafio dos proprietários
A disponibilidade de peças é, sem dúvida, o calcanhar de Aquiles para quem possui um carro de marca extinta. Er-Chih Li, gerente da Petersham Auto Supplies, revelou em fevereiro de 2025 que a oferta de peças para o Holden Commodore tem diminuído nos últimos cinco anos. “Parece que, mesmo há 10 anos, as concessionárias Holden já estavam eliminando peças para os modelos mais antigos. Até os catálogos do VE e VF Commodore têm muitos itens descontinuados”, explicou Li. No entanto, ele ressaltou que o “cuidado pós-venda é bastante razoável” para itens comuns, como maçanetas e interruptores de janela, que ainda são fáceis de encontrar.
Kristian Appelt, proprietário da Ironchef Imports, uma empresa australiana de importação de carros, compartilhou uma perspectiva diferente. Ele afirmou que, ao contrário do que muitos pensam, conseguir peças de reposição para carros importados não é tão difícil. “Mesmo no início dos anos 2000, era possível encomendar peças de fábrica por telefone/e-mail de concessionárias na Nova Zelândia — que parecem ter peças para todos os carros do planeta. Hoje em dia, sites como Amayama tornam ainda mais fácil encomendar peças de serviço com pouco aviso, e itens maiores, como painéis de carroceria de reposição, também estão prontamente disponíveis no exterior”, disse Appelt.
Contudo, a demanda por peças criou um mercado paralelo perigoso. “Sem uma rede oficial de concessionárias, peças genuínas podem ser mais difíceis de encontrar, e reparadores não licenciados podem oferecer alternativas de baixo custo que podem comprometer a segurança ou a qualidade”, alertou Jennings. Ele também destacou o risco de peças de imitação de vendedores online não verificados, que podem não atender aos padrões de segurança australianos.
Custos escondidos: Importação, mão de obra e seguros
Reparar carros de nicho de marcas extintas pode ser caro devido a outros fatores, como os custos de envio. O porta-voz da VACC explicou que, com o suporte limitado das concessionárias locais, a cadeia de suprimentos de peças se torna mais complexa. “Aspectos como prazos de importação e custos de frete podem impactar os preços”, afirmou.
Além disso, a falta de oficinas credenciadas e a localização do motorista podem contribuir para os altos custos de seguro de carros importados, segundo algumas seguradoras. Um porta-voz da Allianz disse ao Drive em fevereiro de 2025 que “as oficinas podem não ter familiaridade com o veículo, pois não há suporte local para os métodos de reparo ou peças do fabricante, resultando em menos oficinas dispostas a aceitar o trabalho”. Isso, por sua vez, “cria menos concorrência, o que eleva os custos de reparo daqueles que optam por fazer o reparo”.
Alternativas inteligentes: Peças recicladas e o mercado de reposição
Felizmente, os tempos estão mudando, e alguns mecânicos estão recorrendo à reciclagem de peças para reduzir os longos tempos de espera e os custos para os consumidores. Dados recentes do eBay Austrália mostram que os motoristas locais poderiam economizar, em média, $2144 ao longo de cinco anos se optassem por uma peça de reposição reciclada. Além disso, a pesquisa do eBay revelou que proprietários de carros com idade entre sete e 13 anos “poderiam economizar até 85%” ao escolher peças recicladas em comparação com equivalentes novos de concessionárias.
Embora peças de reposição novas sempre aumentem a conta final, Jennings afirmou que o aumento de produtos reciclados e remanufaturados está mudando a narrativa. “Mais reparadores estão agora recorrendo a mercados verificados e desmanches para encontrar alternativas acessíveis e de qualidade. Quando as peças são obtidas de forma responsável, os proprietários de modelos descontinuados podem frequentemente manter seus carros de forma econômica, sem sacrificar a segurança e o desempenho”, concluiu.